quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Funai protege interesses e esquece dos índios

Foto: Caco Konzen

   Os noticiários regionais dos últimos dias contemplam reportagens sobre a tribo indígena localizada em Estrela, seu envolvimento com o tráfico de drogas e os bloqueios da BR-386. Formou-se uma perigosa opinião popular contra os índios.
   A ação deflagrada pela Polícia Civil e Brigada Militar, na sexta-feira passada, soma-se à impaciência populacional referente às “tranqueiras” para liberar os poucos quilômetros da BR para continuar a obra de duplicação. A tribo emperra o avanço. Manifestações e xingamentos contra os índios tomam forma, sobretu­do nas redes sociais. Uma avalanche de protestos vira “lugar comum” e expõe a suscetibilidade a qual a tribo está sub­metida, sem condições adequadas muito menos local para ali se habitar.
   O tema é debatido à exaustão nas reuniões de pauta da nossa redação desde segunda-feira. Em paralelo, atentei-me a pesquisar e analisar a situação da tribo. Valho-me das observações de antropólo­gos, em especial de Andréa Martini, que concedeu entrevista ao A Hora na edição dessa terça-feira. Unir-se ao coro de que os indígenas são traficantes, sem-vergonha, vagabundos e que deveriam ser expurga­dos é imprudente e evasivo. O momento conclama uma análise mais ampla, desapaixonada e menos bairrista.
   Minha opinião contraria – e não é de agora – bloqueios da BR-386 e os empe­cilhos impostos para liberar a obra de duplicação no trecho em que está insta­lada a tribo caingangue. Isso é inadmissível diante de tão importante obra de desenvolvimento regional e estadual. A culpa, no entanto, não estendo aos índios tão-somente. A omissão, passividade e inércia da Funai irritam e precisam ser apontadas. Antes de “abrir fogo” contra os indígenas é necessário questionar o mo­tivo que os mantêm às margens de uma rodovia, espremidos entre duas cidades. Vivem sob as piores condições sanitárias, educacionais e culturais. A vulnerabilida­de de seu cotidiano leva à prostituição e ao trabalho infantil, favorece a drogadi­ção e choca-os com os costumes urbanos. Crianças – senão bebês – com sérios pro­blemas de saúde. A cacique é o retrato do descaso: HIV, câncer e usuária de drogas.
   Antes de emperrar o avanço de uma importante obra como é a duplicação da BR-386, a Funai deveria atentar-se à VIDA dos índios, lutar por um território adequado, propício aos valores étnicos e culturais, longe de centros urbanos e margens de rodovias. O argumento de que precisam das beiras de estradas para ven­der seus artesanatos cai por terra quando a polícia deflagra venda de drogas dentro da aldeia. Encontrar crianças oferecendo cestas e balaios pelas ruas remete muito mais a um pedido de esmola do que venda de um produto.      Aliás, este fato não se resume apenas a tribo caingangue de Estrela. A insuficiente atenção do governo federal, balizada pela Funai deixam as tri­bos indígenas do estado entre as de piores condições do Brasil.

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