sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Cupim e ratos consomem a história

   É uma vergonha! A matéria da página 8 expõe uma realidade deplorável com a história lajeadense e de seus imigrantes alemães. Um acervo de materiais em total abandono está tomado por cupim, ratos e traças. 
   A coluna retoma assunto da semana passada com sentimento de indignação ainda maior. Ao abandono da ciclovia, soma-se o Parque Histórico. Como pode uma administração pública desprezar o próprio patrimônio? 
   A cultura e tradição de um povo são suas identidades. É imperioso preservá-las e propagar para as futuras gerações. O Parque Histórico de Lajeado foi inaugurado em 2002. Casas e estilos que marcaram a época da colonização no século XIX foram reproduzidas e reconstruídas para oferecer material de pesquisa e estudo, valorizando as origens dos primeiros habitantes da cidade e região. 
   Onze anos depois materiais acima de 150 anos se perdem em meio aos ninhos de ratos e aos assoalhos apodrecidos que retratam o estado de algumas  casas. Equipamentos musicais, documentos datados de 1800, livros, doações de utensílios domésticos, artefatos de guerra, ferramentas de trabalho estão ignorados.
   Os sucessivos investimentos de dinheiro público – que ultrapassa centenas de milhares – e meia dúzia de funcionários, que ficam no parque todos os dias, foram insuficientes para cuidar das riquezas encontradas no local.
   Do novo secretário de Cultura, Eduardo Gomes Müller, vem a garantia de reformas e preservação, que não se faz apenas com o exercício da retórica. É preciso agir, e o alento é ver um especialista no comando da Secretaria Municipal. Seu desafio é grande: causar uma transformação à altura das ambições culturais de uma cidade-polo. 

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   O crescente número de acidentes de trabalho no campo serve de alerta. Esta semana mais uma morte por descuido e imprudência foi registrada. A falta de orientações e a ignorância quanto ao uso dos equipamentos básicos de segurança aumentam o risco de quem está exposto ao perigo. 

Efeito manada

   O aumento de 70% na venda de extintores na região comprova o quanto a tragédia de Santa Maria despertou a sociedade. O maior rigor na fiscalização anunciado pelos bombeiros e administradores públicos é outra reação após a morte de 238 jovens no centro do estado. 
   Todas as iniciativas no sentido de melhorar a segurança da população merecem aplausos. Resta esperar se elas são fruto de uma conscientização contumaz ou apenas reflexo de um impacto midiático e social provocado pela catástrofe. 

Menos blindado

   No primeiro mês de governo, o prefeito de Lajeado Luís Fernando Schmidt, já apareceu mais em ações públicas, reuniões e entrevistas do que Carmem Regina Cardoso nos últimos anos. A ex-prefeita era “blindada” por seus assessores, que a mantinham enclausurada no gabinete e a protegiam de qualquer confronto maior com a sociedade. Entrevista à imprensa só com muita insistência, mesmo quando o tema era pertinente à manifestação da chefe máxima do Executivo. 
   Schmidt adota postura diferente. No último fim de semana, participou de um mutirão de limpeza nos trevos da cidade. Acompanha as atividades de seus comandados e confirma discursos de campanha, baseada no diálogo e “contato” com os cidadãos. 
   Resta esperar se esse “fôlego” persistirá durante os quatro anos e não se resume a  uma tentativa de impressionismo ou impacto social. 

Demorado

   A intervenção do prefeito com ações e determinações urgentes é aguardada sobre o conserto das calçadas da rua Júlio de Castilhos. Estragados há meses – quando houve troca dos postes que sustentam os fios de energia elétrica –  os passeios estão em estado deplorável. São perigo para usuários e deixam impressão de relaxamento e abandono. 

Indignação popular e as lições da tragédia

   A tragédia que chocou o Brasil e parte do mundo completa quatro dias. Por mais que a vida, e não haveria de ser diferente, volte ao normal em Santa Maria e no estado, ainda resta dor para ser descrita. De norte a sul, de leste a oeste, de A a Z, veículos de comunicação nacionais destacam o tema em todos os noticiários. Este é um daqueles momentos em que o jornalismo se defronta com os limites da  linguagem. Que palavras escolher? Que fotos publicar? Uma tênue linha separa a notícia relevante do sensacionalismo. Adiante. À medida que as investigações avançam, reforça-se o sentimento de  indignação e de revolta. O caminho direciona para a omissão, mais uma vez. Desastre anunciado face a desobediência contumaz da legislação – no caso específico, sobre o funcionamento das casas de  espetáculo. Como podem estar espremidos 1,5 mil pessoas num local em que deveriam estar no máximo 800? Como pode as autoridades permitirem o funcionamento de um estabelecimento sem  alvará, sem saídas de emergência, sem luzes de sinalização e com extintores de incêndio vazios ou quebrados? Quanto mais informações oferecem os jornais, as televisões e as rádios, mais perguntas se  acumulam e nenhuma delas conduz a uma resposta aceitável. Aliás, inexiste resposta aceitável para as 235 famílias de jovens vitimados. Isso será obra do tempo. O povo cobra por justiça.    Instiga as  autoridades a encontrar culpados, e que os erros sirvam de lição para que se mude a mentalidade deste país do “jeitinho” e que tragédias da dimensão não se repitam. Por toda parte surgem notícias de  mobilizações de administradores públicos, que correm para as gavetas checar alvarás.    Convocam reuniões para ampliar a fiscalização e a rigidez. Todos movidos pelo impacto e o tamanho da tragédia  ocorrida em Santa Maria. Palmas à iniciativa. Ponto. Que esta voraz corrida às boates e salões de festa na região não se limite ao período que a mídia mantenha o assunto em destaque. Ponto de  exclamação. O que me move nesta escrita é um misto de lamento e indignação por tantos jovens que se foram, além da certeza de que outros mais ficarão pelo caminho, arrastados pela “tempestade” da  ilusão desenfreada. Este é o resultado de um modelo político que, há décadas, opta por injetar bilhões em novos estádios de futebol e não se preocupa em providenciar locais menores, seguros e agradáveis para receber festas e shows.

A história tem mais valor

Foto: Marcelo Gouvêa

   Lajeado comemorou 122 anos no último sábado. A Hora publicou o caderno Pensar Lajeado, que entre outras abordagens, abriu espaço para manifestações e questionamentos a 50 lajedenses. Aos  elogios e congratulações dos leitores pela publicação: obrigado! O que faz o colunista retomar o aniversário, ofuscado pela tragédia – ainda mais histórica – ocorrida em Santa Maria, é o estado em que  se encontra o local onde pisaram os primeiros imigrantes que constituíram a cidade. A ciclovia à beira do rio e a calçada, que teria sido construída por escravos no século XIV, estão tomados pelo capim.  Caminhar pelos locais é deplorável. Triste e inseguro. As escadarias que dão acesso ao Rio Taquari, em desuso e abandono. O que poderia e deveria ser explorado para trabalhos escolares, ou no mínimo  preservado, é refúgio de usuários de drogas, que se escondem em meio a capoeira. Trilhos para pessoas se parecem com ratoeiras. Há poucos metros, uma creche. Um alento surge a partir do Comitê  Gestor, formado por moradores do centro da cidade, que trabalham para reconstituir a parte antiga da cidade. Pela omissão de sucessivas administrações municipais, que ignoram a história e a cultura, percebe-se que além da falta de um planejamento ordenado, Lajeado não sabe valorizar suas riquezas.