sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Indignação popular e as lições da tragédia

   A tragédia que chocou o Brasil e parte do mundo completa quatro dias. Por mais que a vida, e não haveria de ser diferente, volte ao normal em Santa Maria e no estado, ainda resta dor para ser descrita. De norte a sul, de leste a oeste, de A a Z, veículos de comunicação nacionais destacam o tema em todos os noticiários. Este é um daqueles momentos em que o jornalismo se defronta com os limites da  linguagem. Que palavras escolher? Que fotos publicar? Uma tênue linha separa a notícia relevante do sensacionalismo. Adiante. À medida que as investigações avançam, reforça-se o sentimento de  indignação e de revolta. O caminho direciona para a omissão, mais uma vez. Desastre anunciado face a desobediência contumaz da legislação – no caso específico, sobre o funcionamento das casas de  espetáculo. Como podem estar espremidos 1,5 mil pessoas num local em que deveriam estar no máximo 800? Como pode as autoridades permitirem o funcionamento de um estabelecimento sem  alvará, sem saídas de emergência, sem luzes de sinalização e com extintores de incêndio vazios ou quebrados? Quanto mais informações oferecem os jornais, as televisões e as rádios, mais perguntas se  acumulam e nenhuma delas conduz a uma resposta aceitável. Aliás, inexiste resposta aceitável para as 235 famílias de jovens vitimados. Isso será obra do tempo. O povo cobra por justiça.    Instiga as  autoridades a encontrar culpados, e que os erros sirvam de lição para que se mude a mentalidade deste país do “jeitinho” e que tragédias da dimensão não se repitam. Por toda parte surgem notícias de  mobilizações de administradores públicos, que correm para as gavetas checar alvarás.    Convocam reuniões para ampliar a fiscalização e a rigidez. Todos movidos pelo impacto e o tamanho da tragédia  ocorrida em Santa Maria. Palmas à iniciativa. Ponto. Que esta voraz corrida às boates e salões de festa na região não se limite ao período que a mídia mantenha o assunto em destaque. Ponto de  exclamação. O que me move nesta escrita é um misto de lamento e indignação por tantos jovens que se foram, além da certeza de que outros mais ficarão pelo caminho, arrastados pela “tempestade” da  ilusão desenfreada. Este é o resultado de um modelo político que, há décadas, opta por injetar bilhões em novos estádios de futebol e não se preocupa em providenciar locais menores, seguros e agradáveis para receber festas e shows.

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