quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Primeiro o cargo. Depois a capacidade

   A disputa por cargos nas administrações municipais movimenta os bastidores tanto quanto a disputa por votos, em outubro. Direções de escolas, coordenação de grupos assistenciais, secretarias, departamentos, enfim, todas as funções são “objetos de desejos” partidos e militantes. Negociações esdrúxulas entre partidos e eleitos acomodam o máximo de amigos dentro das repartições públicas. Em muitos municípios, houve mais promessa de emprego do que cargos existentes. 
   O maior problema – entre tantos – é que a última preocupação é com a qualidade do serviço a ser prestado. Bons captadores de votos são colocados em funções estratégicas e relevantes sem ter o mínimo de conhecimento técnico ou experiência. Entra e sai governo, e os cabides de emprego se multiplicam. Seus desempenhos se preveem ineficientes e acachapantes. 
   Muitos prefeitos têm dificuldades de administrar brigas entre os partidos, que lutam pelos cabides com fervor. Sobressai o amadorismo e a política do aproveitamento e falta atender a missão maior dos administradores públicos: trabalhar pelo desenvolvimento coletivo e ordenado da sociedade.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Lula viajou para não falar

   Acusado de receber dinheiro no esquema do Mensalão e envolvido diretamente na Operação Porto Seguro, o ex-presidente Lula deve um esclarecimento para a sociedade brasileira, que por oito anos lhe deu aval para governar o país. Deixou a presidência, em 2009, com um índice recorde de aprovação e popularidade, mas agora, quando evidências põem tudo em xeque, Lula vai a Paris, e se cala.
   Outrora, alegava “não saber de nada”, quando era citado em escândalos de corrupção. Esta semana, limitou-se a dizer que são “mentirosas” as declarações de Marcos Valério, sobre sua autorização e consentimento em todo os arrojos do Mensalão. As acusações de Valério, condenado a 40 anos de cadeia, perdem em credibilidade, pois na época do seu julgamento ele ficou quieto. Mesmo assim, exigem respostas e investigações.


   Na Operação Porto Seguro, Lula está ainda mais “enrolado”. Gravações colocam o ex-presidente como amante de Rosemary Nóvoa Noronha. Ela viajava na cabine presidencial do Aerolula sem aparecer na lista de passageiros. Não bastasse, Rosemary influenciava nas nomeações de cargos no governo, conseguia favores e tinha as “portas abertas” no Planalto, o que acabou numa mistura intragável do público e privado.
   O melhor diante de tantos escândalos é que temos no Supremo Tribunal Federal, um presidente como Joaquim Barbosa, corajoso e irredutível, contra falcatruas, roubalheiras e fraudes. Ele carrega a esperança de justiça que tanto nos falta. Que não lhe falte coragem e discernimento para punir quem ignora as leis e usa o dinheiro público como se fosse dinheiro de bolso.

Por falar em escândalo...

   Terá muito para dizer e tentar explicar o prefeito de Colinas, Gilberto Keller (PMDB), após as suspeitas de fraude no SUS, em seu governo. A comunidade o aguarda ansiosa da viagem que fez aos Estados Unidos, de onde antecipou o retorno para hoje. Sua aprovação nas urnas, em outubro, quando se reelegeu com mais de 70% dos votos, está ameaçada. 
Líder do partido e nome forte para concorrer à Assembleia Estadual em 2014, Keller põe em dúvida um governo reconhecido em Colinas e respeitado em toda a região.

Buracos sem dono e às escuras

   As duas principais rodovias, BR-386 e ERS-130, nos trechos urbanos de Lajeado, estão tomadas por buracos e desníveis. Entra e sai ano, trocam-se governos, repetem-se discursos e o impasse quanto a responsabilidade de manutenção dos locais entre Sulvias, Dnit, Daer e Governo de Lajeado permanece. 
   Os trajetos são os de maior tráfego na região e estão cercados por quatro pedágios. Esburacados, mal sinalizados e sem iluminação, os usuários estão expostos ao perigo. Um desdém completo dos políticos que deveriam zelar pela segurança da população, mas insistem com abandono e desleixo.
   Aplausos ao prefeito de Estrela, que após muita insistência, venceu a burocracia exagerada dos órgãos governamentais e conseguiu instalar postes de iluminação às margens da BR-386, no trecho compreendido em seu município. A diferença é “gritante” para quem cruza a ponte sobre o Rio Taquari.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Secretarias viram cabides de emprego

   A definição da equipe de governo nas administrações públicas sempre alimenta expectativas e renova entusiasmo na sociedade. Mesmo descrentes, os eleitores mantêm minúscula esperança nas promessas eleitorais. Este ano, não é diferente.
   A primeira missão de um prefeito é pensar na evolução coletiva da sociedade, trabalhar para melhorar a renda, saúde, educação, segurança e a qualidade de vida das pessoas. Para corresponder, um grupo de profissionais capacitados e responsáveis é indispensável.    Escolher os secretários é tarefa número 1, em que se alia (deveria, pelo menos) o conhecimento técnico/teórico com a afinidade partidária e política.   Quem acompanha as definições dos novos secretários pelos municípios do Vale comprova diferenças gritantes – quase paradoxais. A junção das habilidades teóricas e partidárias cede espaço para um “cabide de emprego”, em que partidos políticos acomodam pessoas e cargos a partir de alianças firmadas durante a campanha eleitoral. Suas condições de gerir secretarias são preteridas por amizades e apadrinhamento.   A maioria dos prefeitos da região definiu os nomes do alto escalão de governo. Surpresas positivas são notáveis. Mas, na mesma intensidade percebe-se total falta de habilidade, conhecimento e capacidade de determinados escolhidos para comandar setores como indústria e comércio, esporte e lazer, agricultura e outros, tão relevantes para garantir uma gestão eficiente e sustentável.   Sobressai-se um amadorismo enraizado que atrapalha os desempenhos de gestões públicas. Partidos e grupos de apoio não deveriam impor nomes e lotear a administração municipal. Deveriam impor vetos e soar alarmes, sempre que o prefeito cogitar nomeação de um desonesto ou despreparado. Secretários nomeados por pressão política ou familiar tendem a privilegiar tais grupos e enlameiam a administração municipal.   A escolha de secretários, quando equivocada, gera descontinuidade entre as gestões e semeia desconforto. Secretários que atuam como arautos partidários ou “quebra-galhos” de amigos desmotivam o quadro funcional e comprometem a qualidade. Cargos comissionados, portanto, não deveriam ser presentes a amigos nem objetos de barganha entre grupos políticos.

  Subsídios incompatíveis

   Pelas funções e responsabilidades, convém reconhecer que o subsídio pago aos secretários municipais na maioria das cidades está aquém do necessário. Pasmem, pois em muitos, os valores equivalem-se aos recebidos pelos vereadores, o que é um total contrassenso.
   Essa desvalorização do cargo alvoroça os comandantes de partidos a acomodar os mais habilidosos politicamente e impede (pois os acordos foram preestabelecidos) o prefeito de escolher quem irá compor seu quadro com base na experiência e no conhecimento. Enquanto permanecer este amadorismo impregnado, será difícil qualificar os altos escalões nos executivos.

  A propósito

   Nem todas as cidades são iguais. Em Westfália, por exemplo, o prefeito teve dificuldades para compor as cinco secretarias. Dois atuais preferiram deixar o cargo para voltar às atividades privadas e fizeram o prefeito lançar sucessivos convites a líderes locais, indiferentemente de partido. Um exemplo de que não é necessário, como muitos pregam, combinar empregos antes de chegar ao poder. Está aí, talvez, um dos motivos para o município ser destaque no Índice de Desenvolvimento Humano no país, motivado por uma eficiente gestão pública.