As dezenas de manifestações recebidas após a publicação da primeira, de uma série de reportagens sobre bairros carentes do Vale do Taquari, confirmam a relevância do tema. Escrevo para reforçar o objetivo do jornal ao pautar as matérias, que iniciaram com o cotidiano do Santo Antônio, em Lajeado.
Selecionei e publico dois e-mails de leitores, enviados durante a semana. Quando escrevia este texto, na quinta-feira pela manhã, o assunto ainda ecoava entre os repórteres, que compartilhavam as manifestações de leitores pelas ruas. Diante das opiniões divergentes da sociedade, importantes para o processo democrático e para a pluralidade de informações, atento para a profundidade da abordagem.
Reiteradamente, os bairros carentes viram notícia porque não têm rede de água muito menos de esgoto. São destaques porque há violência e falta segurança. Porque há problemas na saúde e na educação. São notícias porque vivem num local desordenado: sujo. Mas, em meio a tudo isso, há corações, almas. Existe VIDA. Que desperta a esperança nas crianças, mas desolação nos adultos.
Ao mostrar o dia a dia de pessoas que vivem nesses lugares, o A Hora reforça a necessidade de serem criados projetos mais arrojados nos bairros mais antigos, como é o caso do Santo Antônio, e pela organização imediata de vilarejos menores, como será mostrado em exemplos de Marques de Souza, Arroio do Meio, e outros. Não basta mais o assistencialismo por meio de programas sociais. Eles são importantes, mas insuficientes.
Mesmo que o objetivo não seja cobrar ações resolutivas dos poderes públicos, a inércia de décadas está implícita em cada depoimento. Em cada descaso. Sabemos que muito é investido em projetos sociais, bolsa família e outros programas. Mas, pouco para coibir o crescimento caótico de bairros onde se concentram milhares de pessoas. É chegada a hora de pensar em soluções definitivas e não varrer a sujeira para debaixo dos tapetes. Cidades que defendem qualidade de vida, civilidade e igualdade, essas diferenças sociais precisam ser encaradas com mais sensibilidade.
Seguem dois, dos vários, depoimentos recebidos durante a semana:
Por mais precária que seja a situação dessas pessoas do bairro Santo Antonio, não tenho pena. Quando vim morar aqui, há três anos, nada daquela área era invadida e maior parte daquelas pessoas tiveram casas, até mesmo casas populares, mas estão ali, por opção, o governo da casa de novo, bolsa família, bolsa escola,etc.
Lajeado também precisa dar um jeito de reduzir os imigrantes do interior do estado. Cada dia mais tem gente de fora montando barraquinha de lona por aqui porque vieram com uma mão na frente e a outra atrás, na expectativa de melhorar de vida, mas aí logo que ganham os benefícios do governo se acomodam nisso mesmo.
E, Santo Antonio não é só barraco não; tem um monte de gente dando duro pra melhorar! Vou chutar baixo, mas no mínimo uns 15 ônibus saem carregados de trabalhadores daqui todos os dias (Perdigão, Minuano, comércio, faxineiras, prefeitura, etc). Acho que isso também dá uma boa reportagem, o outro lado do Santo Antônio!!! Hehe. Vanessa
Olá, Fernando! Gostaria de parabenizá-los pela reportagem sobre o bairro Santo Antônio e suas históricas deficiências e preconceitos. Foi tocante e realista, justamente o que precisa ser mostrado e discutido como e pela sociedade. Seria legal se estendessem este assunto a outros bairros periféricos de Lajeado, a fim de se conhecer mais sobre eles, seus habitantes, suas angustias, suas carências, enfim, fazer com que o município os perceba como parte "real" de Lajeado.
Mais uma vez, parabéns, vou até usar o assunto numa discussão de sociologia em uma das minhas aulas. Até!
Márcio M. Caye, professor e escritor